segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

O sapo, a panela, o terremoto e o Haiti


Diversas vezes assisti o documentário "Uma verdade inconveniente" de Al GoreCada vez que o fazia, possuía novas perspectivas, e acabava por analisar pontos diferentes no filme o que me causava uma metamorfose de opiniões. Em paralelo, a historieta do Sapo na Panela era algo que imutavelmente me chamava à atenção neste filme:

- Um sapo pula dentro de uma panela de água fervendo. Ele pula pra fora imediatamente, pois a súbita mudança de temperatura o causa um choque.
- Mas se o sapo pular na água morna e a água ir esquentando aos poucos, ele não sentirá a mudança, não sairá da água e por fim morrerá.

Notaram a semelhança com o comportamento humano? Nós, a sociedade de prepotentes racionais, quando temos algum choque, uma catástrofe natural ou um atentado terrorista por exemploprontamente buscamos remediar a situação. Tomamos as medidas necessárias até que o problema, enfim, esteja esquecido resolvido. Já se o problema é inserido em doses homeopáticas vamos adaptando-nos a ele, até que não pareça mais um problema, pareça apenas uma dura indiferente irremediável realidade cotidiana.


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O Haiti... a o Haiti, um dia chamado de "a jóia das Antilhas" tanto produtivo que era. Produtivo e usurpado pelos franceses, seus colonizadores, a um ponto que, para se ter uma idéia, 50% do PIB francês da época era provido desta colônia centro-americana. Mas essa mamata um dia teria que acabar. E acabou! Poucos anos após a abolição da escravatura, adquirida com luta, em 1803 finalmente o Haiti declarou-se independente. E declarou também, sem perceber, o suicídio econômico.
Como a grande maioria dos países da época era escravista, o Haiti, sendo temido por ser o primeiro país americano livre da escravatura, foi boicotado comercialmente durante 60 anos, o que rendeu uma grande miséria. Se isso não bastasse, anos depois, a França cobrara uma dívida referente à indenização para com os ex-donos de terras e escravos haitianos. O juro interminável desta dívida que fora paga durante 80 anos drenara ainda mais a ínfima economia do país.

Que o Haiti precisou e ainda precisa de ajuda é de indubitável certeza. Os países que o cercam ao redor do globo, mesmo depois do fim do bloqueio comercial, pouco fizeram para ajudá-lo. O EUA ocupou-o militarmente no início do século XX, única e exclusivamente para defender seus interesses no território. Durante a guerra fria apoiaram um líder conhecido como Papa Doc, o qual com uma feroz e violenta ditadura comandou o Haiti até a década de 70 quando morreu e deixou o governo nas mãos de seu filho, Baby Doc. E dá-lhe mais ditadura e violência.

Com um passado de assassinatos e deposições políticas, finalmente em 2004, com um pedido do interino no governo, Bonifácio Alexandre, o Haiti requisitou a assistência da ONU. Esta, que ainda não havia feito nada em prol do miserável país, enviou uma tropa de 6.700 homens na missão de paz MINUSTAH, comandada pelo Brasil e que perdura até os dias de hoje.


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Retirado de Wikipédia

Em 12 de janeiro de 2010, um terremoto de proporções catastróficas, com magnitude 7.0 na escala de Richter, atingiu o país a aproximadamente 22 quilômetros da capital, Porto Príncipe. Em seguida, foram sentidos na área múltiplos tremores com magnitude em torno de 5.9 graus. O palácio presidencial, várias escolas, hospitais e outras construções ficaram destruídos após o terremoto, estima-se que 80% das construções de Porto Príncipe foram destruídas ou seriamente danificadas. O número de mortos não é conhecido com precisão, embora fontes noticiosas afirmem que pode chegar aos 200 mil, e o número de desabrigados pode chegar aos três milhões. Diversos países disponibilizaram recursos em dinheiro para amenizar o sofrimento do país mais pobre do continente americano.


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Ficou clara a correlação entre os títulos? O terremoto 7.0 que atingiu o Haiti é como a panela com água fervendo que, devido ao choque, faz com que o sapo tenha uma pronta resposta. Já a historia haitiana é como a panela com água que ferve aos poucos e que o sapo não dá a devida importância, acostuma-se com o aumento da temperatura, e por fim, morre.
Neste instante todo o mundo está contemplando o horror haitiano. Sentindo muito pelos milhares de pessoas mortas no sismo.
Bom, se analisarmos, foram milhões as pessoas mortas pela desnutrição, pela miséria e pela violência ao longo da história haitiana. Bem mais que as mortas no terremoto. Se este terremoto foi considerado pela ONU a maior catástrofe natural desde o seu surgimento, o Haiti é uma das maiores catástrofes sociais da história.
A verdade, nua e crua, é que pouco nos lixamos para o Haiti, como pouco nos lixamos para a África, como pouco nos lixamos para qualquer que seja o necessitado sem laços familiares. A lei de talião é da natureza humana. Se pudéssemos escolher entre o mínimo necessário para todos ou o máximo possível para nós mesmos, não hesitaríamos na seleção da segunda alternativa. Se a ajuda que está chegando agora dos países ricos para a reconstrução do país houvesse vindo a anos atrás, talvez o Haiti nem precisaria mais de ajuda. Mas não o fizeram antes porque não enxergavam algo “tão pequeno” quanto a miséria da população, não o fizeram por preguiça.
O sapo aos poucos pula fora da panela com água fervendo do terremoto no Haiti. Mas infelizmente está dormindo em uma panela com uma água que apenas esquenta a cada dia, uma panela bem maior e mais perigosa que a do terremoto, a panela chamada egoísmo.






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Último discurso de doutora Zilda Anrs, uma das poucas que realmente se importavam com o próximo.




referências:



Uma verdade inconvenienteAn Inconvenient Truth , EUA2006 - 100 min - Documentário


Pesquisas sobre Haiti: Wikipédia e Blog Mirian Leitão


Lei de Talião - "Olho por olho, dente por dente"



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